domingo, 8 de abril de 2007

30 de Março de 2001

Passava pouco das 9 da manhã e sou chamada para entrar no consultório da Dra. Amélia.Fui com o meu pai. Sentamo-nos e ela começou a falar:
- Já temos o resultado da biopsia…confirma-se que é um linfoma.
Não consegui dizer nada, estava perdida, como se estivesse muito distante dali e a ouvir ao longe. Ela continuou a falar:
- É um linfoma de hodgkin o que quer dizer que dentro de todo o mal há algo de bom. As perspectivas de cura são muito boas, de 80% ,mas vais ter de fazer quimioterapia e quem sabe radioterapia. Como deves saber a quimioterapia tens alguns efeitos secundários. Um deles é o facto de cair o cabelo…
O meu pai cai na realidade e percebe realmente o que se está a passar…a filha que tanto ama tem cancro…vai ter de fazer quimioterapia…vai ficar sem cabelo…vai sofrer. A única coisa que pôde fazer naquele momento foi chorar…e que mais se poderia fazer?E a mim caíam-me as lágrimas, não queria acreditar. Tudo parecia tão irreal!

Eu nunca tinha ouvido falar em tal doença. O que é um linfoma de hodgkin? Porque me apareceu isto? O que é que eu fiz para ter esta doença?Tudo o mais que a médica me disse não me lembro.Somente uma frase ficou para sempre na minha mente"Hoje tens todo o direito em chorar mas daqui para a frente tens de ser forte.É metade da cura". O meu corpo estava lá, a minha mente não sei…

No fim da consulta começou o terror físico! Após uma hora, mais ou menos, fizeram-me uma biopsia de medula óssea para saber se a medula tinha células cancerígenas. É um exame horrível que consiste em espetar uma agulha de considerável espessura na zona do quadril e sugar uma amostra de medula óssea.As lágrimas voltaram mas desta vez foi mesmo das dores físicas.

Depois desta horrível manhã o que fazer?
O meu pai queria levar-me para casa. Talvez porque achasse que precisava descansar ou para me proteger ou simplesmente para me ter perto! Mas eu não queria ir para casa, não sabia como falar com a minha mãe e contar tudo o que se tinha passado.
Resolvi ir para a escola onde alguns amigos e o meu namorado esperavam pelas notícias. Era hora de almoço e estavam todos no café. Eu ia serena, em passo calmo e pensava no que iria dizer e como iria dizer.
Assim que entrei vi-os numa mesa a olharem-me com ansiedade. Não me consegui controlar e desatei num pranto. Eles vieram ter comigo e perceberam tudo.
Não me lembro do que disse nem do que me disserem estava confusa demais. Lembro-me do Afonso e de toda a força que me deu. Quis acabar tudo com ele naquele instante, não por falta de amor, mas porque o amava demais. Não queria mesmo que ele passasse por tudo aquilo. Só conseguia imaginar-me feia, careca, magra, completamente debilitada e a última coisa que pretendia era a pena dele. Mas o Afonso foi mais do que um namorado, foi um super amigo que esteve sempre comigo num dos piores momentos da minha vida.

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