segunda-feira, 30 de julho de 2007

13 de Agosto 2001

Depois de passar algum tempo desde o último tratamento, voltei a fazer exames para saber como estava.
No dia 13 de Agosto fui até ao hospital para saber o resultado do exame. Parece estranho mas não me lembro de praticamente nada deste dia, apenas do resultado do exame! Tinha entrado em remissão! Finalmente a recompensa pela minha luta.
Foi como se todo o sofrimento, toda a dor, tivessem desaparecido de um momento para o outro. O tormento tinha terminado e eu era realmente uma vencedora!
Podia voltar a ser feliz.

domingo, 29 de julho de 2007

Corte a pente 2

O cabelo tinha caído quase todo, principalmente na parte de cima. Andava sempre de lenço e nem me achava estanha, mas estava…quem olhasse para mim podia adivinhar que nos últimos tempos tivera uma relação bem próxima com a quimioterapia!

Já não fazia quimio algum tempo e o cabelo começou a querer dar o ar da sua graça. Foi então que decidi “tenho de rapar o cabelo!!”

Bem, não seria eu a rapar o meu próprio cabelo!!! Mas houve alguém muito especial que se ofereceu logo para o fazer, o Afonso. Em casa dele, frente a um espelho, eu, ele e o Ricardo…Estava bastante nervosa. Nunca me tinha visto de cabelo rapado. Será que iria reagir bem?! O Afonso estava ainda mais nervoso do que eu…começou a cortar-me o cabelo mas não conseguiu terminar e nessa altura que o Ricardo mostrou os seus dotes de cabeleireiro.

Gostei de me ver. É claro que ficava muito melhor com cabelo mas gostei de me ver!

Tratamentos seguintes

Seguiram-se mais 5 tratamentos idênticos ao anterior. Difíceis, dolorosos, mas suportáveis e vencíveis!
Tudo correu como previsto. Nunca um único pensamento negativo me passou pela cabeça durante aquele tempo…apenas uma única certeza, a cura!

O último tratamento foi no dia 5 de Julho de 2001. Naquele dia, mesmo sem me terem dado a certeza que seria o fim eu sentia-o! Finalmente o fim daqueles tratamentos horríveis.

Apesar do aspecto (muito pouco cabelo) estava muito bem, de tal forma que não hesitei em aceitar ir de férias com o meu irmão e a minha cunhada até França e foram umas férias fantásticas.

domingo, 29 de abril de 2007

1º tratamento (Abril de 2001)

Cheguei ao hospital pela manhã com o meu pai. Sentia-me preparada para o quer que fosse.
A enfermeira mandou-me deitar numa maca para que ficasse mais confortável. As condições não eram as melhores…havia apenas uma enfermeira, dois quartos e alguns doentes Não me lembro de quantas pessoas estavam no quarto mas não estava sozinha.
O verdadeiro momento tinha chegado…a enfermeira começou então os preparativos. Espetou-me uma agulha no cateter e deixou-me a soro. Pouco depois voltou com o 1º dos químicos. Estava também a fazer medicação para as náuseas e vómitos, mas pouco se notava…a má disposição começou logo, uns suores frios, uma agonia…e os vómitos…Não me lembro de muita coisa além disto. Vomitei muitas vezes…tantas que não sei quantas foram.
Sabia que ia ser difícil mas não tinha imaginado o quanto. Nesse dia estava realmente mal. O meu pai tirou-me do hospital em cadeira de rodas. Quando cheguei à rua, a meia tarde, não conseguia abrir os olhos. Cheguei a casa e deitei-me…não falei com ninguém e não me lembro de nada…Os meus pais dizem que eu me mexia e gemia bastante…ainda bem que não me lembro.

O corte de cabelo!

Nunca tinha tido um cabelo tão comprido como até então, mas também nunca lhe tinha dado grande valor.
No dia em que decidi cortar o cabelo estava muito bem disposta, para mim era apenas como uma mudança de visual…estava longe de compreender o que se sente quando se fica sem ele.
Pedi um corte simples, direito, um pouco acima dos ombros e por estranho que possa parecer eu estava feliz com o meu novo penteado!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Pouco antes de iniciar os tratamentos

Já passou muito tempo desde aquela época e tudo aquilo ficou um pouco esquecido, lá no passado! Tentar recordar tudo novamente não é fácil…as datas ficaram perdidas. Resta-me uma pequena ideia da sequência dos acontecimentos.

Antes de iniciar a quimioterapia tive de colocar um cateter totalmente implantável para ser mais fácil administrar os medicamentos. A quimioterapia enfraquece muito as veias logo era realmente necessário.
Mais uma vez lá fui eu até ao bloco operatório, mas agora bem mais calma porque a situação já não era nova. Até o médico cirurgião era o mesmo o que simplificava um pouco a situação.
O cateter foi fixado um pouco abaixo do ombro direito sob o efeito de anestesia local, mas para mim foi bastante doloroso. Sentia fortes pontadas no peito…deitada naquela maca tendo como fundo de visão o tecto…as lágrimas escorriam e entravam-me pelos ouvidos. Não dizia nada, mas em pensamento implorava para que tudo terminasse rapidamente. A intervenção não durou muito mais de que meia hora, mas para mim demorou uma eternidade.
Lá fui para casa com mais uns pontos…mais uma marca.

domingo, 8 de abril de 2007

Alguns dias depois

As dúvidas eram mais do que muitas. Eu não sabia nada sobre esta doença, sobre quimioterapia, sobre cancro!
O meu irmão foi incansável e pesquisou tudo o que conseguiu na Internet sobre a doença de hodgkin. Foi assim que realmente compreendi o que era um linfoma de hodgkin. Um tumor no sistema linfático. Percebi que estava numa fase inicial porque tinha pouquíssimos sintomas, apenas o gânglio inflamado que já tinha sido retirado e alguma sudorese nocturna. Mas nunca tive febre nem cansaço. Logo o meu prognóstico era muito bom, no entanto tinha de fazer os tratamentos de quimioterapia e isso sim assustou-me! Entendi que não ia ser fácil porque além do facto de cair o cabelo teria muitos mais sintomas…as náuseas, os vómitos, o cansaço. Será que iria aguentar tudo isso? Claro que sim! Este sempre foi o meu pensamento, de que iria conseguir vencer a doença.

Apesar de já ter alguma informação não chegava, nem para mim nem para a minha família. Então uns dias depois da biopsia voltei ao hospital com o meu irmão para falar com a médica. Ela foi excepcional e esclareceu-nos todas a dúvidas que tínhamos.
Como iria ser a quimioterapia?
Ia fazer o protocolo ABVD, composto por 4 drogas, durante um dia de de 2 em 2 semanas. Em principio 3 ciclo o que daria 6 tratamentos.
O cabelo iria cair todo?
Em princípio sim, mas sem certezas.
Iria ficar curada com este tratamento?
A maioria dos casos cura apenas com este tratamento e ainda não sabemos se irás ou não fazer radioterapia após a quimioterapia.
Poderia fazer a minha vida normal e continuar a estudar?
Sim, mas descansar um pouco mais e é claro que depois dos tratamentos irás ficar um pouco debilitada.

Devo ter feito muitas mais perguntas mas estas foram as que me ficaram na mente.Estava cheia de força e queria começar o mais rapidamente possível. Quanto mais rápido começasse mais rápido terminava e esquecia todo aquele pesadelo.